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  • Foto do escritorJose Amorim de Andrade

Alginato

Devo afirmar que os curativos de alginato, especialmente nos formatos de placas e tiras, ocupam um espaço muito importante na minha experiência acumulativa no tratamento dos pacientes portadores de feridas crônicas. Provavelmente porque as feridas de etiologia venosa – por serem habitualmente muito exsudativas – respondem muito bem às coberturas com alginato. A possibilidade de combinação com a prata também conferem a esses curativos uma importância inegável no enfrentamento das infecções nos pés de diabéticos. Vamos ao assunto.

O alginato é um derivado da parede celular de certas algas marinhas (algas castanhas ou marrons) encontradas em algumas costas marítimas do planeta (imagem ao lado). Portanto essas algas são a matéria prima para a produção dos alginatos e sua transformação em ácido algínico.


Os curativos baseados em alginato são citados na literatura há mais de três décadas. Entretanto são raros os estudos randomizados a respeito de sua utilização. Os cirurgiões plásticos Attwood em 1989 e O’Donoghue em 1997 publicaram que os curativos de alginato foram superiores aos demais quando utilizados sobre áreas doadoras de enxertos cutâneos.

Os alginatos estão entre os curativos de escolha para as feridas que produzem exsudato moderado ou abundante.

A conhecida ação hemostática dos alginatos também torna sua indicação relevante para as feridas com leito sangrativo ou após os desbridamentos.

A grande capacidade absortiva do alginato associada ao seu formato maleável e de fácil manipulação, podendo ser adaptado às mais diferentes topografias e conformações anatômicas, torna seu uso nas feridas cavitárias bastante animador.

O ambiente fisiologicamente úmido proporcionado pela característica biodegradável dos alginatos é referido como um estimulante da granulação do leito ulcerado, bem como do desbridamento autolítico. O alginato em contato com as secreções das feridas se tranforma em gel. O ambiente úmido daí decorrente captura bactérias que serão “descartadas” por ocasião da troca do curativo. Além do mais essa “gelificação” do alginato no leito da ferida torna a sua retirada muito fácil e indolor por ocasião da troca, bastando para tal uma simples irrigação com solução salina, caso necessário.

Os pacientes costumam confundir o aspecto “lamacento” apresentado pelo alginato gelificado e de cor acastanhada como sinal de piora ou de infecção da ferida.

Escolhi este caso porque mostra as várias possibilidades de aplicação de uma cobertura de alginato. A primeira imagem mostra o aspecto de uma cobertura de alginato com prata mostrando sua saturação e gelificação após 4 dias de aplicado. Na sequência podemos ver a intensa granulação e epitelização; alginato sendo aplicado em áreas tunelizadas do leito; aspecto final de cicatrização completa do coto de amputação mostrado na última imagem.

alginato-caso-1

Dica importante: não é conveniente a utilização de curativos baseados em alginato em feridas secas ou com muito pouco exsudato, o que poderá provocar ressecamento indesejado do leito da ferida como também do próprio alginato.
Isto pode tornar sua retirada difícil, dolorosa e traumática para o leito da ferida a ponto de provocar danos que podem desperdiçar os avanços obtidos.
Portanto, muito cuidado com as feridas decorrentes de enfermidade vascular isquêmica.
Convém lembrar que as superfícies ósseas, articulares e tendinosas não devem receber coberturas de alginato. 

Os curativos de alginato devem ser aplicados em contato direto com a ferida, ou seja, é um curativo primário; donde a necessidade do curativo secundário que, entre outras coisas, se encarregará de mantê-lo no lugar.

A escolha do curativo secundário obedecerá a uma avaliação criteriosa das características da ferida: localização, diagnóstico etiológico, necessidade ou não de oclusão (o alginato é permeável e não é oclusivo) , necessidade ou não de terapia compressiva (tipo Bandagem de UNNA), etc. Se a ferida evolui com diminuição importante do exsudato de tal forma que o alginato não mais gelifica ou passa a ficar muito aderido ao leito ulcerado, deve-se descontinuar a sua aplicação e prosseguir com outro tipo de curativo primário que atenda às necessidades de hidratação do leito da ferida.

Curativos com alginato que já tivemos oportunidade de aplicar e que podem ser encontrados (com as conhecidas dificuldades!) no mercado nacional.

Se deseja conhecer melhor, leia:

  1. Lee K.Y., Mooney D.J. Alginate: Properties and biomedical applications. Prog. Polym. Sci. 2012;37:106–126. doi: 10.1016/j.progpolymsci.2011.06.003.

  2. Szekalska M., Puciłowska A., Szymańska E., Ciosek P., Winnicka K. Alginate: Current Use and Future Perspectives in Pharmaceutical and Biomedical Applications. Int. J. Polym. Sci. 2016;8:1–17. doi: 10.1155/2016/7697031

  3. O’Meara S., Martyn-St James M., Adderley U.J. Alginate Dressings for Venous Leg Ulcers.

  4. Diane L. Krasner, George T. Rodeheaver e R.Gari Sibbald – Chronic Wound Care: A clinical Source book for healthcare professionals – 4th Edition

  5. Hess, Cathy Thomas “When to use alginate dressings”. Advances in Skin & Wound Care

  6. Burns. 1996 Feb;22(1):40-3

  7. Acta Chir Plast. 1997;39(2):53-5

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